Ana Cristina Rigotti

Alguns dias não podem ser descritos e narrados com a precisão necessária, aquela que permite ao outro viver esse dia através das minhas palavras. Citando Guimarães Rosa: “quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.” Nasci e cresci, e crescendo estou, nesta cidade, esta Barbacena. E tive dois dias de andanças pelos seus recantos, traçando caminhos por um roteiro mágico, que não é só um roteiro: é uma experiência, um mergulho no passado de um lugar cuja vocação sempre foi o aconchego, a hospedagem e a alimentação. E, ao mesmo tempo, num presente cheio de cores, aromas, sentimentos e sensações. Não fui turista, fui protagonista. Visitei os lugares onde são produzidos os ingredientes de uma alquimia, o leite que se transforma em queijo, os aromas, cores e sabores das frutas mais lindas que já vi! Senti o sol forte e a chuva que cai e passa, deixando o cheiro de terra e trazendo lembranças. Senti o carinho de quem abre as portas da sua casa e conta as suas histórias. Deliciei-me com a gastronomia, a experiência da transformação, o cheiro da cebola refogada, o alho, os pimentões coloridos, esse cheiro de refogado da roça, aquele que vem do fogo, da lenha. No fundo, tinha o burburinho da conversa. No ar, a magia de compartilhar uma refeição. E pra qualquer lado que eu olhasse, a alterosa Serra da Mantiqueira, silenciosamente, emoldurava esse momento, meu, dos amigos que tenho, dos que fiz, da nossa Barbacena.